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  • Writer's pictureFlavia Totoli

Nova Série: Abuso Sexual Infantil Memórias da minha vida pasada

Este é o primeiro post de uma série, na qual mostrarei o processo de pintar meu auto-retratos e as reflexões sobre o caminho que me trouxe até até aqui.



Essa série é a minha maneira de lidar com meu passado.


Colocar em palavras o que me aconteceu foi uma das coisas mais difíceis que já fiz. As pessoas dizem para deixarmos o passado no passado, mas elas não te explicam como fazer isso. Ninguém explica que para deixar o passado no passado é preciso entender, digerir e se necessário fazer o luto dos que aconteceu.


Não foi simples mergulhar de verdade nesse passado e olhar como ele impactou minha vida, moldou meu comportamento e influenciou minhas decisões. Especialmente porque não estava consciente dessa engrenagem que se construiu em minha cabeça e personalidade. Passei muito tempo achando que era a única a reagir da forma como reagia e que deveria ter algo de errado comigo. Talvez eu fosse louca por não conseguir esquecer, talvez eu fosse histérica por não conseguir superar.


Talvez eu simplesmente estivesse quebrada demais para ter conserto.



Depois de alguns meses morando em Barcelona, decidi que deveria voltar a fazer terapia. Tinha me separado há pouco mais de um ano e pensei que era o momento de parar e olhar como tinha chegado até aqui e como eu queria viver daqui para frente.


Começar tratando do abuso sexual pareceu o caminho certo e natural. Tive a sorte de encontrar as pessoas certas que me escutaram, me entenderam e me ajudaram e ajudam. Conheci outras vítimas, conheci outras histórias e comecei a colocar em palavras as minhas emoções, raiva e medos. Pouco a pouco fui criando um mapa da minha história e a verdade é que olhar para tudo isso foi a coisa mais dolorosa que fiz. Não tinha ideia da profundidade do meu trauma e de como ele estava entranhado nos meus passos.


Ser vítima de uma violência sexual é uma marca que todas as mulheres carregam em algum nível. É impossível ser diferente na sociedade machista que vivemos. Todas nós já sofremos algum tipo de constrangimento, todas nós já tivemos medo pela nossa integridade física e mental. Essa série é a minha maneira de lidar com o meu trauma e é também o retrato da história de muitas mulheres.


Mulheres que foram caladas, subjugadas, ameaçadas, violadas.


Mulheres que tiveram que aprender a viver com o medo, a vergonha e a culpa.


Infelizmente essas dores não são só minhas.

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